A mente é explícita em atos comuns a todos: o despertar, o sono, o coito. Isso diz um rishi, um "vidente", nas palavras do erudito italiano Roberto Calasso.
Esse provavelmente é o primeiro ponto: A mente é comum a todos. Outro dia fiz uma pergunta sobre como seria ter uma mente. Por que ela seria como seria?
Falar da mente é dar conta de uma experiência. A palavra experiência, do latim experiri, aproxima-se do português vivência, que implica a mente. Sem mente não há experiência.
Um modo de entender o que se diz por experiência é pensá-la como a bagagem, o que se aprendeu, graus de maturidade, vivências e o que se tirou delas: conhecimento.
Outro modo de traduzir experiência dá-se através da união de dois conceitos: um que fala sobre a mente como cognição; outro que fala do aparato sensorial, ou seja, da sensibilidade.
Experiência como união de cognição e sensibilidade. Iremos supor alguém que experimenta todas essas coisas, ainda que na mente seja difícil encontrar uma pessoa.
Para alguém que experimenta, há o corpo e, portanto, a paisagem, o ambiente. Há também aquilo que sabe sobre aquilo que se sente, frequentemente visto como o “eu”.
O eu seria aquilo consciente que sabe, que observa, que cogita acerca daquilo que se sente, que experimenta a paisagem, aquilo que é e não é o que chama de “mim”.
Esse eu experimentador, esse eu experimentalista, esse eu que vivencia surge ao sabor da experiência, isto é, da mente e, portanto, das percepções.
Ocorre que algumas percepções podem ser implantadas pelo bate-estaca dos ditos, das normas, das regras, da cultura.
Quem se experimenta, frequentemente o faz a partir da cultura, isto é, anda por aí vendo e sentindo com olhos alheios. Pensa-se individual, mas é atravessado por coletivos.
Como se sabe, percepções podem ser tanto enganosas quanto esclarecedoras. Podem ser vastas como o espaço e claustrofóbicas como na paranoia.
Para quem experimenta percepções, são como aquilo que se tem à frente. O que temos à frente? Muitas e muitas entidades: seres, temos coisas, objetos, qualidades, o mundo.
Em todas essas aparições temos a mente. Sem ela o tapete do mundo não pode se desenrolar nem brilharia o mundo pois não haveria o verniz da clareza nem o deus chamado desejo.
A mente - o modo como a mente aparece e, digamos, como vem a ser, isto é, sobre quais bases se desenvolve, - está em todos os atos e pode ser flagrada em todos os atos.
E não são poucos os atos produzidos pelas pessoas. E mesmo assim, presente em uma miríade de atos, todos originados e conduzidos pela mente, continua a mente uma desconhecida.
Como algo tão íntimo e ubíquo pode ser tão elusivo? Das perguntas que se podem fazer aqui, há estas: onde está nossa atenção e quais são suas qualidades?
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