A mente fala de si como se existisse e não existisse! Seria doida?
Uma particularidade do “tratamento” proposto pelo buda Gautama, se entendi bem, é ter a mente (sic) como ponto de partida do chamado “caminho”. É uma abordagem que reconhece a participação da mente em toda experiência humana e postula interessantes repercussões oriundas deste fato capital.
Esse pedaço de informação - a mente participa da experiência humana - pode intrigar em meio a um mundo que se imagina como independente da mente, chegando mesmo ao ponto de negar a mente, por não ser, veja só, objetiva o bastante.
Há uma série de problemas sobre o que a mente é, ou do que é feita, e de onde vem, como se transforma ou se manifesta, etc. Continua efetivamente elusiva e absurda, como quando se pensa a si mesma. “A mente é incontornável!”, diz.
Mas que mente é essa que se pretende incontornável e quem é esse que eventualmente deseja contornar a mente? O que a mente diz de si? Fala. A mente é antes uma exibida, uma animação e um espetáculo; e nem sempre o drama é dos melhores, ou a comédia faz sentido. Levanta-se do escuro no fundo e surge como um mágico ilusionista sussurrando sortilégios de luz e sombra à quem por ventura assiste na plateia.
Quem assiste ao mágico? Como a mente flagra-se a si? Quem faz a pergunta? A mente assiste ao mágico e se flagra a si fazendo a pergunta. É o palco, é o circo, é o elefante acorrentado por uma estaca mítica.
Sobre o imaginário, pode ter ou não poder. Como esse poder vem a ser constituído, isso depende do sonho no qual se encontra o mundo. Em certos estados a imagem é dotada de poder por ser vazia; noutros por ser imantada pela confusão. Há experiências onde as imagens são o próprio corpo sensível; e outras onde a fantasia é guardada em potes e ministrada em gotas aos enfermos da imaginação.
Pois a imaginação pode tornar-se disfuncional para os que fazem uso dela. Quem se pretende a imaginar ou ter imaginação, e assim por diante, pode ser confrontado pelos efeitos de uma imaginação achatada, ou hipertrofiada, e até mesmo padecer ou se assombrar pela ausência de imaginação. Assim como a mente, a imaginação segue arriscada.
A mente que se diz arriscada fala o que de si? O que exatamente é arriscado na mente? Para responder, inventa um poeta de carne e osso para dizer: “Tudo na mente é arriscado! Nem mesmo o abismo se encontra a salvo!”. Engraçada, fala de si como se existisse e não existisse! Seria doida?
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