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Foto do escritorBreno Xis

Aproximando "quem?"


Um dos temas centrais da meditação como empreitada de intencionalidade científica, isto é, como prática epistemológica, é a identidade. A meditação encontra algo e busca a identidade daquilo.


Estou usando a palavra meditação de modo bem frouxo. Um pouquinho mais de rigor e estaríamos falando de algo como treinamento da mente. A educação, de modo geral, é o método frequente pelo qual fazemos isso: educamos e treinamos a mente.


(Educar a mente facilita a meditação. Vocês sabem por quê?)

No sânscrito há uma palavra similar, "bhavana", que tem mesmo o sentido de cultivo. A mente é vista como um solo fértil de sustentar jardins de aprendizados, ciências, artes, e assim por diante. Visão bastante generosa. Visão de rishis.


Um dos cultivos no treino da mente é a investigação da identidade. A identidade de quem investiga e a identidade daquilo que sucede com quem investiga. De modo geral, buscam-se os referentes de palavras como “eu”, “outro” e “isto”.


Um modo de explicar a importância da investigação ou meditação analítica à identidade é a experiência de sofrimento. Todo mundo sofre e no centro disso deve haver um eu que sofre e que precisa agir para evitar o sofrimento.


Com a psicologia aprendemos que esse eu que sofre subscreve eventuais delírios, sofrimentos francamente imaginários. Vejam Mark Twain: “Sou um homem velho e conheci muitos problemas, mas a maioria nunca aconteceu.”


Como "abstrações" imaginárias e sentimentos desprovidos de eu podem gerar tanto impacto, se, de certa maneira, não têm base? Uma tese é a crença numa identidade. Uma ligeira e crucial imputação. Isso significa, em parte, que essas aparências são percebidas como tendo características.


Da mesma forma, a identidade de quem investiga deve ter características, certo? A mitologia pessoal é um apanhado em narrativa dessas supostas características. Por favor, descreva suas qualidades? Por favor relacione seus defeitos? Características.


Uma dificuldade, chamada “obscurecimento” pela teoria da meditação, é a crença de que essas características existem como sendo de alguém. Ou como se existissem por si mesmas, de modo independente. Em ambos os casos infere-se a crença em um eu, um “si-próprio”.


No caso da experiência de sofrimento esse “si-próprio” é a consciência autocentrada, que os iogacharins chamam de “aflitiva”, pois precária, uma vez que alçada pelo sonho de existência independente, como um “auto”, que dança destacado de todo o resto.


Essa simples crença tão arraigada, de estar separado daquilo que é observado na mente, e os corolários que advêm disso, seria uma mentalidade a ser investigada pela meditação. A educação aqui seria investigar como a mente vem a ser, como "surge" a experiência de consciência e o que é o sujeito que parece se destacar.

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